quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O juízo estético

Picasso
«É hoje uma verdade incontestável que o juízo de valor sobre uma obra depende da estrutura dessa obra. Mas talvez seja preciso insistir mais num outro factor: não é esse o único factor do juízo. Podemos supor que, para compreender melhor o valor da obra, é preciso abandonar esta primeira divisão territorial, necessária mas empobrecida, que separa a obra do seu leitor. O valor é interno à obra, mas só aparece no momento em que esta é interrogada por um leitor. A leitura é, não apenas um acto de manifestação da obra, mas também um processo de valorização. Esta hipótese não redunda em afirmar que a beleza de uma obra lhe é dada unicamente pelo leitor, e que esse processo continua a ser uma experiência individual que é impossível delimitar rigorosamente; o juízo de valor não é um simples juízo subjectivo; mas nós pretendemos ultrapassar esse mesmo limite entre obra e leitor e considerá-los como formando uma unidade dinâmica.
Os juízos estéticos são proposições que implicam muito o seu próprio processo de enunciação. Não se pode conceber esse juízo fora da instância do discurso onde ele é proferido, nem isoladamente do sujeito que o articula. Posso falar da beleza que para mim têm as obras de Goethe; posso falar, quando muito, da beleza que elas têm aos olhos de Schiller ou de Thomas Mann. Mas não tem sentido uma questão que incida sobre a beleza em si. Era talvez a esta propriedade dos juízos estéticos que se referia a estética clássica quando afirmava que esses juízos são sempre particulares.
Estamos a ver claramente nesta perspectiva por que é que a poética não pode e até nem deve pôr como tarefa primeira a explicação do juízo estético. Esta pressupõe não apenas o conhecimento da estrutura, que a poética deve facilitar, mas também um conhecimento do leitor e daquilo que determina o seu juízo. Se esta segunda parte da tarefa não é irrealizável, se encontramos meios para estudar aquilo a que comummente se chama o "gosto" ou a "sensibilidade" de uma época, quer seja através de uma pesquisa das tradições que os formam ou das aptidões inatas a qualquer indivíduo, então estabelecer-se-á uma passagem entre poética e estética, e a velha questão sobre a beleza da obra poderá pôr-se novamente.»
Tristan Todorov , Poética, Teorema, Lisboa


1. Identifica os factores determinantes do juízo estético, na perspectiva do texto.
2.Esclarece em que consistem esses factores determinantes do juízo estético.
3.Explica por que motivo o autor considera que «para compreender melhor o valor da obra» esta não pode ser separada do seu leitor.
4.Elabora um texto-síntese sobre o juízo estético com base nas informações do texto de Todorov e outros conhecimentos adquiridos nas aulas.

(Retirado e adaptado do site Netprof)

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