quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A especificidade da linguagem artística

Klimt

Na arte está patente um complexo de símbolos transmissores das vivências do artista, pelo que toda a arte se constitui como linguagem. De facto, a obra de arte é um conjunto mais ou menos ordenado de sinais, emitidos pelo criador e que o espectador tem de interpretar em termos de significado. A sua linguagem é altamente subjectiva, a arte serve-se de sinais específicos para dizer o que as formas de comunicação objectiva não conseguem dizer. A linguagem objectiva presta-se para exprimir realidades exteriores sobre as quais todos podem estar de acordo. Já a arte se presta a traduzir aquilo que em nós existe de mais secreto, subjectivo e de mais difícil comunicação. A obra de arte exige uma leitura especial.
Em face de criações abstractas, o acesso ao conteúdo significativo torna-se mais difícil, então a obra é interpretada mais em função das significações daquele que a contempla do que das intenções do artista que a concebeu. Nestes casos, o espectador torna-se criador, projectando na obra a sua experiência de vida, os seus conflitos, as suas esperanças, os seus anseios, os seus projectos. Por esta razão não há duas leituras iguais da mesma obra de arte.
Sendo a arte uma linguagem, o que é que ela pode dizer?
Pode dizer aquilo que o artista quer transmitir. Ele relata todo um conteúdo significativo referente, por exemplo a um acontecimento, paisagem natural, o artista pode espelhar a sociedade do seu tempo de um modo elogioso ou crítico. Pode expressar convicções religiosas ou políticas. Mas a intenção do artista não é apenas falar do mundo exterior. Ele fala igualmente de si, transmitindo aos outros o seu modo próprio de sentir e de pensar, as suas emoções, os seus estados de alma, o mundo interior. Para além do mundo exterior e interior que o artista quer comunica aos outros há que referir aquilo que o artista diz sem ter consciência.
Pois, a obra de arte fala, a arte é palavra, criação é palavra- isto significa que criar é uma iniciativa individual, como falar. O objecto criado é também uma palavra, uma mensagem.
A arte é uma forma de expressão e como tal objectiva; materializando, eternizando uma experiência, mas é também uma forma de comunicação, pressupõe um destinatário/receptor de uma mensagem, como qualquer outra linguagem. A arte é vista como um texto que implica uma actividade interpretativa do leitor. A linguagem artística é polissémica, o que permite a recriação por parte do espectador.
A natureza enquanto mundo físico, está presente na obra. É nela que o artista se inspira, é dela que retira os elementos ao dispor, é dela que extrai as cores, os sons, as formas, as personagens, os movimentos, os ritmos que combinam para dar corpo à criação.
O artista tem procurado a melhor maneira de se exprimir e de comunicar. Utilizando os mais diversos materiais (tela, palavras, vidro, plástico, etc.) recorrendo às mais variadas atitudes provocatórias, alterando os mais diversos cânones.
A criação artística não resulta exclusivamente da actividade consciente implicada na preparação e execução da obra. Para se ser artista, é necessário algo mais do que adquirir conhecimentos de arte, desenvolver a sensibilidade e dominar técnicas de execução através de esforços voluntários, conscientes e intencionais. Fala-se de talento, de intuição, de imaginação, pretendendo aludir a processos psicológicos não localizáveis no domínio conscientes. A obra é o resultado de um longo esforço, preparatório em que o artista se empenha conscientemente munido de elementos fundamentais.

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