sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Análise de duas pinturas

Bosch

Paula Rego
Olha para os quadros atentamente e responde às seguintes questões:

O que vos sugere os quadros?
O que sentem?
Que horas serão?
Que cores estão presentes?
Que cheiros sugerem os quadros?
Que ruídos se ouvirão?
Onde estariam no quadro? Porquê?
Que perguntariam?
O que temos representado? Com que tipo de pinceladas?
Qual é o estado de alma do autor?
Que tipo de linhas temos nos quadros?
Até que ponto o representado se afasta da realidade?
O que pretende mostrar o autor?
O que tiravam do quadro ou ampliavam?
Quantos planos identificam no quadro?
O que acrescentariam, à primeira pergunta, depois desta análise?
Dá um título a cada quadro?
Escreve uma frase relativa a cada quadro.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O valor da arte reside em si mesma

Paula Rego



"A Arte não é expressão de nada, a não ser de si mesma. Tem uma vida independente, tal como o Pensamento a tem, e desenvolve-se estritamente por caminhos próprios. Não é necessariamente realista numa época de realismo, nem espiritual numa época de fé. Longe de ser uma criação do seu tempo, está normalmente em posição frontal a ele, e a única história que preserva para nós é a história da sua própria evolução. Por vezes, retrocede sobre si mesma, e faz reviver alguma forma antiga, como aconteceu como o movimento arcaizante da arte grega tardia, ou no movimento pré-rafaelita dos nossos dias. Noutras alturas, antecipa por completo a sua época, e produz num dado século obras que exigirão um outro século para serem percebidas, apreciadas e fruídas. Em circunstância alguma reproduz a sua época. Passar da arte de uma época à época em si é o grande erro que todos os historiadores cometem.
A segunda doutrina é esta. Toda a má arte nasce de um retorno à Vida e à Natureza, e da elevação destas a ideais. A Vida e a Natureza podem por vezes ser usadas como parte da matéria prima da Arte, mas, antes de constituírem um benefício real para ela, têm de ser traduzidas em convenções artísticas. No momento em que a Arte abandona o seu meio imaginativo, abandona tudo. Como método, o Realismo é um fracasso completo, e as duas coisas que todo o artista deverá evitar são a modernidade da forma e a modernidade de assunto. Para nós, que vivemos no século XIX, qualquer século, excepto o nosso, é assunto adequado à arte. As únicas coisas belas são as coisas que não nos dizem respeito. Para ter o prazer de me citar a mim próprio, é exactamente porque Hécuba não nos é nada que os seus infortúnios são um tema tão adequado a uma tragédia. Para além disso, só aquilo que é moderno poderá, alguma vez, passar de moda. O Sr. Zola senta-se para nos dar um retrato do Segundo Império. Quem quer saber hoje do Segundo Império? Passou do prazo. A Vida anda mais depressa do que o Realismo, mas o Romantismo anda sempre à frente da Vida.
A terceira doutrina é que a Vida imita a Arte muito mais do que a Arte imita a Vida. Isto resulta não apenas do instinto imitativo da Vida, mas do facto de o fim confesso da Vida ser o de encontrar expressão, e de a Arte lhe oferecer algumas forma belas através das quais poderá realizar a sua energia. Esta é uma teoria nunca antes exposta, mas que é extremamente fértil, e lança uma luz inteiramente nova sobre a História da Arte.
Segue-se como corolário disto que também a natureza exterior imita a Arte. Os únicos efeitos que é capaz de mostrar-nos são efeitos que víramos antes na poesia, ou em pinturas. É este o segredo do encanto da Natureza, bem como a explicação da sua debilidade.
A revelação final é que Mentir, o enunciar de coisas belas e falsas, é o verdadeiro fim da Arte. Mas disto creio ter dito que chegue. E agora vamos até ao terraço, onde "cai o pavão branco de leite como um fantasma", enquanto que a estrela da tarde "deslava de prata o entardecer". Ao crepúsculo, a natureza adquire um efeito maravilhosamente sugestivo, e não é desprovida de encanto, embora, talvez, a sua função principal seja a de ilustrar citações dos poetas. Anda! Já falámos que chegasse."

Oscar Wilde,Intenções: Quatro Ensaios Sobre Estética, Cotovia, Lisboa, 1992, pp. 50-52

O espectador

Klimt


Mas a obra de arte uma vez constituída, fica liberta das amarras que a une ao criador. Ela fica a fazer parte de um mundo físico , valendo por si. As intenções que presidiram à sua criação podem não ser captadas pelo espectador que perante ela se situa. A obra de arte sobrecarrega-se das significações próprias de quem contempla, pelo que a sua interpretação se afasta muitas das vezes daquilo que o artista quis comunicar.
O sujeito que contempla faz uma leitura da obra de arte, construindo uma estrutura inteligível que lhe permite perceber o que vê, o que ouve, o que percepciona. A captação racional daquilo que se observa dá-nos uma imagem que tende para a objectividade, por se conformar às determinações do objecto em questão. O comportamento estético implica que possamos a partir de imagens construir renovadas configurações do real.
É pela imaginação que criador e espectador se afastam do real dado e se evadem por esferas em que as representações adquirem caracteres que se vão distanciando do mundo natural, entrando num mundo totalmente livre.